Minicursos

Como participar

Não há necessidade de inscrição prévia nos minicursos. Para participar, basta se dirigir à sala designada no dia e horário especificados na programação. As salas estão sujeitas à lotação.
Para que o certificado de participação no minicurso seja emitido, é crucial preencher a ficha de presença que estará disponível na sala.

Permacultura comunicacional - Ruralidades, resistências estéticas e éticas em busca de práticas para o bem-viver e por uma comunicação saudável

Ministrante: Lúcio Pereira Mello, do Incra / UnB

Ementa: Este minicurso propõe um debate sobre o papel da comunicação como encruzilhada (Exu) para os atravessamentos culturais e sociais, buscando ser parte de uma “pesquisação” com posicionamentos definidos de resistência, de antropofagia, de diálogo e de escatologia das práticas tóxicas ao corpo e à mente. Tendo como referência o estudo de obras como Torto Arado (Itamar Vieira) e de artistas como Fábio Baroli, bem como partindo de pensadores como Nego Bispo e Ailton Krenak, a proposta é debater para construir ensaios de contranarrativas estéticas e éticas, pensar em práticas ecossistêmicas, agroecológicas de comunicação para se contrapor à “monocultura discursiva” e aos “algoritmos comunicacionais e informacionais semanticamente modificados” sintetizados artificialmente no infame lema “Agro é Pop” (SIC). Tendo Milton Santos e sua noção de “homens lentos”, o objetivo é construir juntos uma visão de futuro onde há sim alternativas e de construção de espaços de (r)existências, de aquilombamentos e de compreensão ecossistêmica pelo viés da permacultura como prática não apenas do manejo do solo e da agricultura, mas como premissa ética, estética e de práxis.

Local: Sala Casa FINEP

Território e poder: o papel do jornalismo na construção narrativa 10 anos após o rompimento da Barragem de Fundão

Ministrantes: Hariane Santos Alves e Amanda de Paula Almeida (UFOP)

Ementa: Este minicurso tem como objetivo analisar criticamente a construção das narrativas jornalísticas – compreendendo a comunicação como campo de disputa simbólica, memória e justiça territorial –, sobre o rompimento da Barragem de Fundão, em Bento Rodrigues (MG), a partir de coberturas realizadas dez anos após o acontecimento. Pretende-se refletir sobre os vínculos entre mídia, memória coletiva, pertencimento, sobreposição de danos e disputa territorial em contextos marcados pela mineração predatória e seus impactos socioambientais. Partindo da análise de reportagens publicadas entre 2015 e 2025, o minicurso propõe uma imersão nas narrativas midiáticas produzidas sobre o rompimento da barragem, sobre os danos das pessoas atingidas e sobre o reassentamento do Novo Bento, evidenciando como os meios de comunicação operam como agentes de memória – mobilizando sujeitos, lugares, objetos e fenômenos – e influenciam a reconfiguração simbólica do território atingido. A partir de um referencial teórico que articula autores como Paul Ricoeur, Maurice Halbwachs, Milton Santos, Lefebvre e Neiger et al., o curso discutirá o papel do jornalismo na consolidação ou silenciamento de memórias e identidades coletivas. Serão abordadas também as tensões entre as narrativas institucionais e os testemunhos dos atingidos, o uso das efemérides como dispositivos narrativos e a lógica da cobertura sensacionalista versus uma abordagem humanizada. Dividido em duas partes, o minicurso inicia com uma exposição teórica sobre os conceitos de memória coletiva, território e operadores de memória na mídia. Ao final, será proposta uma oficina breve de leitura crítica de quatro reportagens, com o intuito de fomentar a construção de olhares decoloniais e engajados nas práticas das cobertura sobre Bento Rodrigues. Trata-se de uma proposta formativa para estudantes, pesquisadores e comunicadores interessados na interface entre mídia, território e reparação histórica.

Local: Sala 103

Mulheres e Histórias em Quadrinhos no Brasil: Memória e Resistência

Ministrante: Nara Bretas Lage (UEMG)

Ementa: Vai explorar o universo das histórias em quadrinhos e a representatividade feminina. As Histórias em Quadrinho brasileiras construíram expressiva tradição no século XX e são alvo de inúmeros estudos. Apesar disso, as mulheres artistas do traço são desconhecidas pelo público geral, mesmo sendo participantes ativas na produção e consumo dessa mídia. Ainda que apagadas e silenciadas do cenário hegemônico dos quadrinhos nacionais, um esforço coletivo de mulheres – artistas, pesquisadoras, jornalistas e leitoras de quadrinhos – busca resgatar a memória da atuação das artistas do traço do país. Destes esforços, nomes como Nair de Teffé (Rian), Pagu, Hilde Weber, Cahú, Crau, Ciça e Mariza, por exemplo, foram apontados como pioneiras dos quadrinhos no país em período predecessor à internet, produzindo variações desta mídia desde 1909. Mais recentemente, as artistas dos quadrinhos conquistaram visibilidade com a emergência da internet e das plataformas de redes sociais, se mostrando como as principais construtoras de memória sobre as suas próprias obras. Entendendo a importância de ressaltar as presenças destas artistas como resistência à escolha política de silenciá-las, o minicurso busca colocar em evidência: quem são as mulheres nos quadrinhos do/no Brasil; quem são as pesquisadoras e as pesquisas que apresentam e debatem o trabalho destas artistas (revisão de literatura); além de apontar artistas de quadrinhos para conhecer. Desta maneira, o minicurso pretende discutir o espaço da mulher no universo das Histórias em Quadrinho no Brasil, percorrendo e narrando a trajetória histórica de vida e obra das artistas do traço brasileiras, além de colocar em evidência a presença destas mulheres como uma resistência ao silenciamento e apagamento hegemônico na pesquisa e história desta mídia. Este minicurso é um desdobramento da pesquisa “Uma história das artistas do traço no Brasil (1960-1990)”, desenvolvido na Universidade Federal do ABC e financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, além de um esforço pessoal de pesquisa da proponente que culminou em sua tese de doutorado “Aconteceu Comigo: Mulheres narrativas de vida e violências nos quadrinhos de Laura Athayde”, financiada pelo CEFET-MG e pelas CAPES.

Local: Sala 203

Temporalidades e representação em telenovela: a questão da escravidão O Direito de Nascer (1964), Escrava Isaura (1976) e Xica da Silva (1996)

Ministrante: Rhayller Peixoto da Costa Souza (UFRJ)

Ementa: O minicurso apresenta como a escravidão se inscreve como documentação histórica da telenovela brasileira, baseada na noção apresentada por Kornis (1996). Para isso, serão abordados três momentos na televisão, veiculados em emissoras diferentes e que apresentam uma contextualização sobre a situação do sujeito escravizado. “Mamãe Dolores” e o lugar do negro na integração nacional em “O Direito de Nascer” (TUPI, 1964) acompanha a trajetória de um dos maiores sucessos da década de 1960 à luz da relação senhorial vista em “Casa-Grande & Senzala” (Gilberto Freyre). A noção de democracia racial que impera no contexto de ditadura militar contribuiu para consolidar essa imagem. A escravidão em “Escrava Isaura” (1976) pensa a questão traumática a partir de seus desdobramentos para fora do âmbito televisivo. A coletivização de um trauma escravizado, branco e que deu à escravidão o status de mancha na história do país pela ditadura militar (Arthur Xexéo e Maurício Stycer) são marcadores importantes dessa época. Vinte anos depois, “Xica da Silva” (1996) usa do heroísmo negro, resultado da absorção das demandas dos Movimentos Negros na ocasião das manifestações no Centenário da Abolição (Gabriel Fleck de Abreu). A TV Manchete, em busca da representação de um Brasil profundo, preferiu ir, em teoria, na contramão das narrativas sobre a escravidão corriqueiras. As três telenovelas, em seus contextos, discutem a questão representativa do negro a partir do sujeito escravizado. Em cada ano em que esse período da história foi trazido, rastros e restos de utopia entrelaçam o passado e o presente. A história do passado na televisão é, portanto, uma busca pela verossimilhança (Marialva Barbosa).

Local: Hemeroteca

Grupo Folha e violações de direitos na ditadura: revisões críticas na historiografia da mídia

Ministrante: André Bonsanto (UEM).

Ementa: O minicurso tem como objetivo apresentar a trajetória de um trabalho pioneiro no âmbito da justiça de transição no Brasil, que buscou elucidar a participação e responsabilidade do Grupo Folha (Folha de S.Paulo) em casos de graves violações aos Direitos Humanos perpetrados durante a ditadura civil- militar brasileira (1964-1985). Composto por uma equipe interdisciplinar, o trabalho, vinculado ao Centro de Antropologia e Arqueologia Forense – CAAF/Unifesp, em parceria com o Ministério Público Federal – MPF, realizou ampla pesquisa historiográfica, baseada sobretudo em fontes documentais e depoimentos de testemunhas, a partir de três eixos: I) os ganhos econômicos por meio de incentivos públicos e da aquisição de empreendimentos enfraquecidos; II) o empréstimo de automóveis do jornal como disfarce para a prisão de militantes; III) o prejuízo gerado a jornalistas demitidos por abandono de emprego quando se encontravam encarcerados pela ditadura. A pesquisa procurou, nesse sentido, gerar materialidades comprobatórias suficientes para avançar na elucidação de fatos ainda não devidamente esclarecidos, propiciando uma possível reparação histórica — sem precedentes no Brasil — sobre a colaboração de uma empresa de comunicação com a ditadura brasileira. O trabalho resultou no lançamento do livro “A serviço da repressão: Grupo Folha e violações de direitos na ditadura” (2024, Mórula Editorial) e de uma série documental de quatro episódios, “Folha Corrida” (2025, ICL), além de um inquérito judicial em andamento contra a empresa, conduzido pelo MPF. Dessa forma, o minicurso pretende discutir os desdobramentos dessa investigação em termos acadêmicos, políticos, midiáticos e jurídicos, apresentar a metodologia e os resultados da pesquisa, discutir criticamente o papel da grande imprensa durante a ditadura civil-militar brasileira, além de promover reflexões sobre memória, verdade, justiça e reparação no campo da história da mídia.

Local: Sala 03

Inteligência Artificial e Memória: usos, desafios e novas relações com o passado

Ministrantes: Talita Souza Magnolo e Maria Clara Magalhães Cabral (UFJF)

Ementa: A crescente presença da Inteligência Artificial (IA) no cotidiano social, impulsionada pela popularização de ferramentas como o ChatGPT da OpenAI, entre tantas outras, vem transformando diversas práticas culturais, incluindo aquelas relacionadas à memória coletiva e à construção histórica. Se por um lado essas tecnologias oferecem possibilidades inovadoras de representação e interpretação do passado, por outro, levantam importantes questões sobre autenticidade, manipulação e reconfiguração de imaginários sociais. O evento deste ano da Alcar propõe como tema central “Revisões críticas da história: comunicação, território e decolonialidade”, sendo assim este minicurso tem como objetivo discutir os impactos da IA na construção e na disseminação da memória histórica, explorando como essas ferramentas podem tanto facilitar o acesso à informação quanto reforçar distorções e apagamentos. A proposta parte da premissa de que as disputas pela memória são intrínsecas à história humana, mas que o advento das tecnologias de IA acelera e intensifica essas transformações, ampliando seus efeitos simbólicos e sociais (Ricoeur; Halbwachs). Como eixo prático da discussão, serão analisadas campanhas publicitárias recentes que utilizaram IA generativa para criar interações fictícias com personagens históricos ou já falecidos, como no comercial “Geração” (Volkswagen, 2023), que promove um dueto virtual entre Elis Regina e Maria Rita, e “Mais que uma Copa” (Itaú, 2023), que imagina seleções femininas de futebol em décadas passadas. Também será debatido o perfil “Jesus Talk Show”, que simula, via IA, um programa de auditório apresentado por uma figura inspirada em Jesus Cristo e o trabalho da artista baiana Mayara Ferrão e seu projeto “Álbuns de Desesquecimentos” — evidenciando o uso de recursos tecnológicos na ressignificação de narrativas religiosas. O minicurso ainda propõe uma reflexão crítica sobre o papel da IA na continuidade de práticas históricas de manipulação da memória. A diferença, contudo, reside na velocidade, escala e alcance proporcionados pelas tecnologias digitais contemporâneas. Por fim, será realizada uma atividade prática com ferramentas de IA para produzir imagens que representem eventos históricos ocorridos antes dos anos 2000, com o intuito de promover uma análise coletiva sobre quais aspectos são destacados, omitidos ou reinterpretados, e o que isso revela sobre os mecanismos contemporâneos de construção da memória.

Local: Sala 07

Copyright 2025 – Alcar